Kate Reese está fugindo.
Determinada a buscar uma vida melhor para ela e para o filho
Christopher, ela abandona um relacionamento abusivo e escapa no meio da noite
junto com seu garotinho. Eles acabam se sentindo atraídos pela agradável
comunidade de Mill Grove, na Pensilvânia, uma cidadezinha distante de tudo e de
todos, com apenas uma estrada de acesso.
A princípio, Mill Grove parece o lugar perfeito para eles se
estabelecerem. Porém, Christopher desaparece por seis longos dias sem deixar
nenhum rastro. O desespero toma conta de Kate, e a polícia da cidade faz buscas
incansáveis para descobrir o paradeiro do menino. Até que ele surge no meio da
noite saindo de um bosque nos limites da cidade. Ileso, mas mudado. Christopher
volta com uma voz na cabeça que apenas ele pode ouvir e com uma missão que
apenas ele pode cumprir: construir uma casa na árvore no bosque da Mission
Street antes do Natal; caso contrário, sua mãe e todos na cidade sofrerão as
consequências.
Vinte anos depois de As vantagens de ser invisível fazer com
que leitores do mundo inteiro se sentissem infinitos, Stephen Chbosky volta com
uma obra épica de horror, cujas escala e emoções que carrega redefinem o
gênero. Leia com as luzes acesas.
Resenha:
O romance Amigo Imaginário começa cinquenta anos antes dos eventos principais, oferecendo aos leitores um vislumbre sombrio do passado da cidade de Mill Grove, palco da narrativa. O sequestro de David, um jovem garoto, abala profundamente a comunidade local, sinalizando uma escuridão iminente que paira sobre a cidade e seus habitantes.
Avançando para os dias atuais, conhecemos Christopher, um menino de sete anos e meio que carrega uma bagagem emocional pesada: seu pai, com transtornos mentais, cometeu suicídio quatro anos antes, e agora ele e sua mãe, Kate, estão em fuga de um relacionamento abusivo com um alcoólatra. Kate tenta recomeçar a vida trabalhando em um asilo, enquanto Christopher enfrenta bullying na escola, especialmente por parte do filho da família mais rica da cidade — justamente os donos do asilo. Apesar das dificuldades, ele encontra apoio em um amigo fiel, Ed Especial. No entanto, sua dislexia o impede de se destacar academicamente.
Tudo muda quando, após um atraso da mãe, Christopher desaparece misteriosamente. Ele é encontrado seis dias depois sem lembrança de onde esteve. A partir daí, sua vida e a de sua mãe parecem melhorar drasticamente: ele vai bem em uma prova de matemática e Kate ganha na loteria, comprando uma casa perto de uma floresta sombria. No entanto, o que parece sorte logo se transforma em inquietação.
Christopher começa a sofrer de fortes dores de cabeça e passa a ouvir a voz de alguém que chama de "moço bonzinho", que o incita a construir uma casa na árvore na floresta. Com a ajuda de seus amigos, ele ergue essa estrutura, que se revela um portal para um mundo alternativo. Lá, ele descobre a existência de uma entidade maléfica, a "mulher sibilante", e percebe que cabe a ele enfrentá-la para proteger sua mãe e seus amigos. Mas seria tudo isso fruto de um fenômeno sobrenatural ou manifestação hereditária da doença mental do pai?
Stephen Chbosky, autor do celebrado As Vantagens de Ser Invisível, demonstra habilidade ao construir uma atmosfera assombrosa. A ambientação da cidadezinha de Mill Grove e, em especial, da sinistra Floresta da Rua Mission, reforça a sensação de claustrofobia e desconforto. A tensão aumenta gradativamente, com descrições detalhadas e um clima de inverno opressor que torna a leitura vívida — por vezes angustiante.
Os personagens são densos e bem desenvolvidos. A evolução de Christopher, de uma criança vulnerável a um herói determinado, é crível e tocante. Kate, por sua vez, representa a luta de uma mãe resiliente, tentando reconstruir a vida enquanto lida com traumas e desafios. Sua força e amor pelo filho geram empatia imediata no leitor.
Chbosky também mergulha em temas profundos, como fé, trauma e moralidade. O simbolismo cristão é utilizado para explorar os conflitos internos de seus personagens e os embates entre luz e escuridão que permeiam a condição humana. O autor destaca o poder da imaginação como ferramenta de enfrentamento — tanto uma fonte de esperança quanto de terror.
Apesar dos méritos, o romance peca por seu ritmo irregular. Em alguns momentos, a narrativa se arrasta, com cenas repetitivas e subtramas excessivas que diluem o impacto da história principal. Ainda assim, personagens secundários como Mary Katherine MacNeil, uma estudante católica devota; a Sra. Henderson, bibliotecária atormentada por um casamento infeliz; e o xerife local, envolvido em uma investigação traumática, enriquecem o enredo com suas próprias lutas e dilemas.
Amigo Imaginário é uma leitura intensa, sombria e multifacetada. Pode confundir ou cansar em certos trechos, mas oferece uma experiência emocionalmente marcante. É uma obra que mistura horror psicológico, drama e fantasia com sensibilidade e profundidade.
“Nunca confunda ser gentil com ser fraco.”
Trilha sonora da resenha:
