Num piscar de olhos, o tempo passa. Conseguimos dizer tudo o que gostaríamos? Ou esperamos demais?
Desculpe! Não tenho como explicar o que aconteceu. Só posso contar.
O rapaz estava ali, pronto para colocar um ponto final em seu namoro. Ele queria mesmo é fazer isso por WhatsApp. Dino era meio covarde. Até tentou por telefone, mas a menina havia sentido algo de diferente em sua voz. Ela o convenceu de conversarem pessoalmente.
Então ele estava ali, naquela estação rodoviária fria, agregada a uma estação de trem. Decidido a não pronunciar uma única palavra. Escreveu tudo em uma folha de caderno, que agora estava dobrada em sua mão. Tudo o que queria dizer estava escrito naquele bendito bilhete.
Pra variar, Carolina estava atrasada. “Vai ser seu último atraso. Mesquinha!”. O rapaz remoía raiva enquanto caminhava de uma ponta a outra da estação. Já havia passado meia hora do horário combinado. Ônibus iam e vinham, pessoas robóticas em todas as direções. O trem que trazia Carolina não chegava nunca. A cada embarcação, apito das portas e uma manada pra lá e outra pra cá. O bilhete umedecia em sua mão suada.
Como estariam ali dentro suas palavras? Ele tentava lembrar: “Acho que nunca ia dar certo mesmo. Os meus defeitos não combinam com os seus. Somos novos. Cada um segue o seu caminho.”
Dino imaginava Carolina lendo o bilhete. Ela lia, e ele apreciava sua cara bochechuda se avermelhando e se salgando em lágrimas. Sentiu um breve prazer ao vislumbrar a cena.
A impaciência o tomara de vez, mas ele era covarde também para ir embora. Sentou na mureta de cimento. Levantou. Andou até a banca de jornal. As pessoas passavam mudas. Voltavam sérias. Combinando com o ar seco. Ele voltou a se sentar. Levantou. Caminhou até as Casas Bahia. Voltou. Não olhava mais o relógio.
A estação era fria e tinha som e cheiro de leva e traz de carne congelada. Distraiu-se.
Absorto, se assustou quando viu ao longe uma figura pálida e enrugada. Pôs-se de pé num pulo. Espichou os olhos. As pernas tremeram. Ela se aproximava, vinha em sua direção. Era Carolina? Ele não tinha certeza. Era uma senhora, cabelos brancos como glacê.
Uma velha.
E era Carolina. Num andar falho e corcunda. Chegou bem perto e sorria com doçura e rugas esticadas.
O que havia acontecido naquele instante? Quanto havia esperado naquela estação? O que havia ocorrido? Magia? Fissura no tempo?
Ela pegou Dino pela mão e o levou até o café, que estava no exato lugar onde tempos atrás tinha uma banca de jornal. Dino girou a cabeça, reparando em sua volta e percebeu mais verde, jardins e um chafariz de livros acrílicos. Pessoas alegres. Uma quentura gostosa. A cidade parecia ter alma.
Aquele sorriso murcho, sentado bem à sua frente, deixava-o feliz. Havia nele uma sinceridade boba e cativante.
Tomaram o café em silêncio.
Carolina se levantou, deu a volta na mesa lentamente, deixou um beijo na testa de Dino e andou em direção à estação. Embarcou. E o trem partiu.
Ainda sentado, Dino baixou a cabeça e viu o bilhete amarrotado em sua mão. A mão, agora, enrugada e trêmula.
Ele o abriu.
“Valeu a pena. Superamos tudo… do nosso jeito. Ajustamos nossos defeitos até encaixar uns nos outros. Fico feliz por não ter desistido. Eu te amo”.
Tudo o que o covarde Dino queria dizer estava escrito naquele bendito bilhete. Mas Carolina já havia partido.
Trilha sonora:
Oi, Marco tudo bem? Parabéns pelo belíssimo conto, puseste os sentimentos magistralmente no escrito. Adorei. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Muito obrigado, Luciano! Sempre bem-vindo! Abraços
ExcluirAmei! Foi muito boa a leitura do conto!
ResponderExcluirBeijos.
Muito obrigado pela leitura e que bom que gostou!
ResponderExcluirMorremos, deixando palavras doces ou amargas nos lábios e na alma. Por medo, por insegurança, por preguiça...
ResponderExcluirBeijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
É isso, Angela... é isso!
Excluirbeijos
Olá, Nelson.
ResponderExcluirNossa que reviravolta. Eu amei o conto. E é uma lição para levarmos para a vida.
Prefácio
Oi, Sil! É algo que me incomoda desde sempre: deixar de falar o que sentimos. Mas acho que é necessário.
ExcluirOlá!!
ResponderExcluirEu adorei o conto, gostei muito da leitura.
Beijinhos!!
http://focadasnoslivros.blogspot.com/
Muito obrigado, Thayná, pela leitura e pelo retorno.
ExcluirGrande abraço
Oba! Obrigado, Felipe!
ResponderExcluirAbraços
Nossa, que final! O medo nos faz perder muita coisa! Amei amei ♥
ResponderExcluirBeijos
http://www.leiapop.com/
Muita coisa, Bruna! Muito, muito obrigado pelo retorno! Abraços
ExcluirPassando pra dizer que eu gostei do conto, quase um mini conto. Tem começo, meio e fim. É nostálgico, não é cansativo, e fácil de ler, final muito bom, prende e surpreende. Precisa de alguns ajustes (pontuei alguns via áudios no teu Instagram Devorador de Letras) de escrita pra ficar perfeito. No demais, parabéns Nelson!!!
ResponderExcluirOba! Obrigado, Kézia! Estou ansioso pra saber! Muito obrigado pela leitura e pelo retorno! Abraços
ExcluirNossa... Que bonito! Gostei muito da transformação fantástica e do futuro brilhante, otimista. Abraço!
ResponderExcluirMais uma vez, obrigado, Samuel! Que bom que gostou! Grande abraço
ExcluirFinal surpreendente e com uma baita lição, né?
ResponderExcluirAcho que o medo faz a gente perder muitas coisas. E defeitos, quem não tem? Claro, tudo depende. Enfim, amei o conto e queria uma continuação! :)
Beijos, Carol
www.pequenajornalista.com
Nossa! Muito obrigado, Carol!
ExcluirE o medo faz mesmo a gente perder muitas coisas, inclusive tempo. E quase sempre são medos bobos.
Beijos!
Oi Nelson.
ResponderExcluirMais um belo texto.
Abraço.
Oi, Lia! Fico feliz com esse retorno. Mais uma vez, obrigado pela leitura! Abraços
ExcluirOi Nelson,
ResponderExcluirComo sempre, seu conto traz uma mensagem importante, que precisa ser passada adiante.
Parabéns!
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Bom dia, Alessandra! Agradeço mais uma vez seu retorno. E vamos adiante. Abraços
ExcluirOlá, Nelson
ResponderExcluirParabéns pelo texto, muito interessante. O tempo é algo muito efêmero. Gostei da abordagem que você fez!
Beijos
- Tami
https://www.meuepilogo.com
Oi, Tamires! Verdade! E o tempo é também o que fazemos com ele. Muito obrigado! Beijos
ExcluirÓtimo conto, eu gosto muito quando existe uma pegada mais melancólica, me faz lembrar os livros do Ruiz Zafón.
ResponderExcluirParabéns.
www.bloganyduarte.blogspot.com
Uau! Carlos Ruiz Zafón é maravilhoso. Gosto também. Obrigado, Any, pela leitura e retorno. E vamos lendo rs
Excluir