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  • Conto: Uma estação na curva do tempo - Nelson Albuquerque Jr.!!








    Num piscar de olhos, o tempo passa. Conseguimos dizer tudo o que gostaríamos? Ou esperamos demais? 



    Desculpe! Não tenho como explicar o que aconteceu. Só posso contar.
    O rapaz estava ali, pronto para colocar um ponto final em seu namoro. Ele queria mesmo é fazer isso por WhatsApp. Dino era meio covarde. Até tentou por telefone, mas a menina havia sentido algo de diferente em sua voz. Ela o convenceu de conversarem pessoalmente.

    Então ele estava ali, naquela estação rodoviária fria, agregada a uma estação de trem. Decidido a não pronunciar uma única palavra. Escreveu tudo em uma folha de caderno, que agora estava dobrada em sua mão. Tudo o que queria dizer estava escrito naquele bendito bilhete.
    Pra variar, Carolina estava atrasada. “Vai ser seu último atraso. Mesquinha!”. O rapaz remoía raiva enquanto caminhava de uma ponta a outra da estação. Já havia passado meia hora do horário combinado. Ônibus iam e vinham, pessoas robóticas em todas as direções. O trem que trazia Carolina não chegava nunca. A cada embarcação, apito das portas e uma manada pra lá e outra pra cá. O bilhete umedecia em sua mão suada.
    Como estariam ali dentro suas palavras? Ele tentava lembrar: “Acho que nunca ia dar certo mesmo. Os meus defeitos não combinam com os seus. Somos novos. Cada um segue o seu caminho.”
    Dino imaginava Carolina lendo o bilhete. Ela lia, e ele apreciava sua cara bochechuda se avermelhando e se salgando em lágrimas. Sentiu um breve prazer ao vislumbrar a cena.
    A impaciência o tomara de vez, mas ele era covarde também para ir embora. Sentou na mureta de cimento. Levantou. Andou até a banca de jornal. As pessoas passavam mudas. Voltavam sérias. Combinando com o ar seco. Ele voltou a se sentar. Levantou. Caminhou até as Casas Bahia. Voltou. Não olhava mais o relógio.
    A estação era fria e tinha som e cheiro de leva e traz de carne congelada. Distraiu-se.
    Absorto, se assustou quando viu ao longe uma figura pálida e enrugada. Pôs-se de pé num pulo. Espichou os olhos. As pernas tremeram. Ela se aproximava, vinha em sua direção. Era Carolina? Ele não tinha certeza. Era uma senhora, cabelos brancos como glacê.
    Uma velha.
    E era Carolina. Num andar falho e corcunda. Chegou bem perto e sorria com doçura e rugas esticadas.
    O que havia acontecido naquele instante? Quanto havia esperado naquela estação? O que havia ocorrido? Magia? Fissura no tempo?
    Ela pegou Dino pela mão e o levou até o café, que estava no exato lugar onde tempos atrás tinha uma banca de jornal. Dino girou a cabeça, reparando em sua volta e percebeu mais verde, jardins e um chafariz de livros acrílicos. Pessoas alegres. Uma quentura gostosa. A cidade parecia ter alma.
    Aquele sorriso murcho, sentado bem à sua frente, deixava-o feliz. Havia nele uma sinceridade boba e cativante.
    Tomaram o café em silêncio.
    Carolina se levantou, deu a volta na mesa lentamente, deixou um beijo na testa de Dino e andou em direção à estação. Embarcou. E o trem partiu.
    Ainda sentado, Dino baixou a cabeça e viu o bilhete amarrotado em sua mão. A mão, agora, enrugada e trêmula.
    Ele o abriu.
    “Valeu a pena. Superamos tudo… do nosso jeito. Ajustamos nossos defeitos até encaixar uns nos outros. Fico feliz por não ter desistido. Eu te amo”.
    Tudo o que o covarde Dino queria dizer estava escrito naquele bendito bilhete. Mas Carolina já havia partido.

    Trilha sonora:









    27 comentários :

    1. Oi, Marco tudo bem? Parabéns pelo belíssimo conto, puseste os sentimentos magistralmente no escrito. Adorei. Abraço!

      https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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    2. Amei! Foi muito boa a leitura do conto!
      Beijos.

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    3. Muito obrigado pela leitura e que bom que gostou!

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    4. Morremos, deixando palavras doces ou amargas nos lábios e na alma. Por medo, por insegurança, por preguiça...

      Beijo

      Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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    5. Olá, Nelson.
      Nossa que reviravolta. Eu amei o conto. E é uma lição para levarmos para a vida.

      Prefácio

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      1. Oi, Sil! É algo que me incomoda desde sempre: deixar de falar o que sentimos. Mas acho que é necessário.

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    6. Olá!!
      Eu adorei o conto, gostei muito da leitura.

      Beijinhos!!
      http://focadasnoslivros.blogspot.com/

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      1. Muito obrigado, Thayná, pela leitura e pelo retorno.
        Grande abraço

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    7. Nossa, que final! O medo nos faz perder muita coisa! Amei amei ♥

      Beijos
      http://www.leiapop.com/

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      1. Muita coisa, Bruna! Muito, muito obrigado pelo retorno! Abraços

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    8. Passando pra dizer que eu gostei do conto, quase um mini conto. Tem começo, meio e fim. É nostálgico, não é cansativo, e fácil de ler, final muito bom, prende e surpreende. Precisa de alguns ajustes (pontuei alguns via áudios no teu Instagram Devorador de Letras) de escrita pra ficar perfeito. No demais, parabéns Nelson!!!

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      1. Oba! Obrigado, Kézia! Estou ansioso pra saber! Muito obrigado pela leitura e pelo retorno! Abraços

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    9. Nossa... Que bonito! Gostei muito da transformação fantástica e do futuro brilhante, otimista. Abraço!

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      1. Mais uma vez, obrigado, Samuel! Que bom que gostou! Grande abraço

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    10. Final surpreendente e com uma baita lição, né?
      Acho que o medo faz a gente perder muitas coisas. E defeitos, quem não tem? Claro, tudo depende. Enfim, amei o conto e queria uma continuação! :)

      Beijos, Carol
      www.pequenajornalista.com

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      1. Nossa! Muito obrigado, Carol!
        E o medo faz mesmo a gente perder muitas coisas, inclusive tempo. E quase sempre são medos bobos.
        Beijos!

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    11. Oi Nelson.
      Mais um belo texto.
      Abraço.

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      1. Oi, Lia! Fico feliz com esse retorno. Mais uma vez, obrigado pela leitura! Abraços

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    12. Oi Nelson,
      Como sempre, seu conto traz uma mensagem importante, que precisa ser passada adiante.
      Parabéns!
      http://estante-da-ale.blogspot.com/

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      1. Bom dia, Alessandra! Agradeço mais uma vez seu retorno. E vamos adiante. Abraços

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    13. Olá, Nelson

      Parabéns pelo texto, muito interessante. O tempo é algo muito efêmero. Gostei da abordagem que você fez!

      Beijos
      - Tami
      https://www.meuepilogo.com

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      1. Oi, Tamires! Verdade! E o tempo é também o que fazemos com ele. Muito obrigado! Beijos

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    14. Ótimo conto, eu gosto muito quando existe uma pegada mais melancólica, me faz lembrar os livros do Ruiz Zafón.
      Parabéns.
      www.bloganyduarte.blogspot.com

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      1. Uau! Carlos Ruiz Zafón é maravilhoso. Gosto também. Obrigado, Any, pela leitura e retorno. E vamos lendo rs

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