Sinopse:
Esta ficção é baseada no relato verdadeiro de uma mulher que espera sua execução em uma prisão no Egito. Sua história chega até a autora, que resolve conhecer Firdaus para entender o que levou aquela prisioneira a um ponto tão crítico de sua existência. “Deixe-me falar. Não me interrompa. Não tenho tempo para ouvir você”, começa Firdaus. E ela prossegue contando sobre como foi crescer na miséria, sua mutilação genital, ser violada por membros da família, casar ainda adolescente com um homem muito mais velho, ser espancada frequentemente, e ter de se prostituir...até que, num ato de rebeldia, reuniu coragem para matar um de seus agressores, levando-a à prisão. Esse relato é um implacável desafio a nossa sociedade. Fala de uma vida desprovida de escolhas, mas que em meio ao desespero encontra caminhos.E, por mais sombrio que isso possa parecer, sua narrativa nos convida a experimentarum pouco dessa liberdade encorajadora através das transformações internas de Firdaus. O que acontece com ela é o despertar feminista de uma mulher.
Resenha:
No ano de 1973, Firdaus é condenada a morte após assassinar seu cafetão, Marzouk, alguns meses antes Nawal El Saadawi inicia sua pesquisa sobre neurose em mulheres egípcias em hospitais e clínicas, desta maneira acabou conhecendo um dos médicos da Prisão para Mulheres em Qanatir, ele foi o responsável por lhe contar a história deFirdaus, seu interesse por aquela mulher foi imediato, mas conseguir falar com ela era outra história. Nawal tentou inutilmente por diversas vezes falar com Firdaus, mas sempre recebia a recusa dela, ela não recebia visitas, se alimentava pouco e quase não falava, mas certo dia quando estava prestes a entrar no carro para ir embora foi chamada pela carcereira e informada que Firdaus queria enfim falar com ela, assim Nawal conseguiu que ela lhe contasse sua história pouco antes do momento da execução.
Firdaus foi uma vítima durante toda a sua vida, começando pela sua infância pobre, onde viu seu pai agredir e abusar da sua mãe, ainda nova sofreu mutilação genital, molestada pelo tio a quem amava e confiava, foi forçada a casar ainda adolescente com um homem muito mais velho do que ela, onde também sofreu violência doméstica. Firdaus acabou fugindo e se prostituindo, sendo aproveitada em todos os níveis, e de uma rejeição consistente por quase todos os humanos que ela encontrou desde a infância até a idade adulta, onde foi levada ao limite.
Firdaus vive e permanece na parte de classe baixa da sociedade, independentemente de quanto dinheiro ela ganha como prostituta. Apesar de suas tentativas de ir além de sua classificação socioeconômica, ela raramente é tratada como algo mais do que a escória da sociedade do Cairo, ninguém nunca se importou o suficiente para ajudá-la a melhorar sua situação. Como uma mulher no Egito, qualquer tentativa de melhorar suas posições financeiras e sociais nunca chegou a ser concretizada, seu destino é viver sem livre arbítrio, educação ou ambição.
Ela não tinha relacionamentos que não terminassem em abandono, mesmo com os cafetões que se aproveitavam dela, sem nenhuma ideia de como ter interações saudáveis e positivas com os outros, Firdaus passa por toda a vida, simplesmente tentando sobreviver às suas torturas. Depois de confessar o assassinato de seu cafetão, ela é mandada para a prisão para morrer.
Renunciando a várias oportunidades para apelar de sua sentença de morte, Firdaus recebe seu destino. Ironicamente, ela está animada com a perspectiva de morrer como um meio de viver. Depois de enforcada, ela acredita que finalmente terá sua liberdade, em vez de pertencer à religião, ao governo e ao sexo oposto.
A história de Firdaus é de uma vida desprovida de escolha, seja o que for que acenda uma faísca feminista em uma mulher, é uma faísca que inevitavelmente faz sua vida mais brilhante e mais destemida. Um livro impactante e de uma leitura fluida que recomendo a todos.
Trilha sonora da resenha:
Sobre a autora:
NAWAL EL SAADAWI, 87, é uma escritora, ativista, médica e psiquiatra feminista egípcia. Saadawi foi presa pelo presidente Anwar al-Sadat em 1981 por supostos “crimes contra o Estado”. Ela escreveu muitos livros sobre as mulheres no Islã, e se dedica, em especial, à luta contra a prática da mutilação genital feminina no OrienteMédio. Nawal é tratada como “a Simone de Beauvoir do mundo árabe”. Seus livros já foram traduzidos para mais de 28 idiomas e são adotados em universidades do mundointeiro. Seus discursos atualmente se concentram na crítica à tentativa de normalizaro que ela considera a opressão aos costumes das mulheres na África e Oriente Médio. Depois de quatro décadas da revolução islâmica, muitos já consideram normais as restrições aplicadas às mulheres, incluindo as próprias mulheres.
Oi Marco,
ResponderExcluirAchei uma leitura bem surpreendente, principalmente por causa do ano da publicação e como soa tão atemporal. Bem impactante mesmo.
até mais,
Canto Cultzíneo
Desde que vi a capa e título deste livro, já fui atrás para saber do que se tratava e ver agora essa resenha, foi um presente ao coração.
ResponderExcluirCom certeza, deve ser um relato forte, triste, mas ao mesmo tempo, engrandecedor.
Aceitar o destino, não por não ter escolha(no caso da execução),mas por buscar a libertação.
Soa tão poético, mesmo na dor!
Com certeza, quero demais conferir a história desta mulher!!
Beijo
Gostei da resenha Marco. Me pareceu ser uma história forte e bem impactante. Abraço!
ResponderExcluirwww.newsnessa.com
Oi, Marco!
ResponderExcluirEu sou apaixonada por essa capa, mas por enquanto a história em si não me desperta interesse.
Beijos
Balaio de Babados
Olá, Marco.
ResponderExcluirEu não solicitei esse livro para a editora ainda, mas é uma leitura que pretendo fazer. A história é muito interessante e atual e acho que é uma leitura que todos deveriam fazer.
Prefácio
Oi Marco,
ResponderExcluirA capa e a premissa do livro é bem interessante e eu realmente fiquei curiosa para saber ainda mais da história. Espero poder ler em breve.
Bjs e uma boa semana!
Diário dos Livros
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Oi Marco.
ResponderExcluirMais um livro que fico conhecendo por aqui. De certo é uma obra rica e muito impactante. Coloquei na lista.
Abraço.