Revirar o baú de fotos nos traz lembranças que transitam entre o real e o imaginado.
Se tem um gosto antigo que eu ainda preservo é o de ver fotografia em papel. O bom e velho baú da família. É incrível como a magia do tempo brinca com a nossa memória: o esquecido volta diferente, o que parecia fantasia da cabeça reaparece materializado, e renascem até umas alegrias perdidas ao longo dos anos. Lembranças que nos desafiam entre o real e a invenção.
Revirando o baú achei essa fotografia. Um grupo grande de amigos (ou nem tanto). Na época, as aparências pareciam fazer mais sentido. Hoje, não mais. Difícil saber as verdades e mentiras aqui. Muita coisa eu lembro – acho.
O sorriso desse rapaz, por exemplo, não deveria estar aqui. Disfarça uma dor. Tenho só essa foto dele, o que me faz sempre lembrar dele contando sobre a doença grave recém descoberta na família. Aqui não se vê, mas eu sei que não tem sorriso atrás desse sorriso.
Essa blusa cor de laranja da Isabela era vermelha. Lembro bem: era linda e viva. Vistosa. E não esse esboço de brechó, sem cor, sem graça. E ainda tinha um perfume doce, ela.
Só que acho que nessa hora aqui ninguém sentiu o perfume. Porque alguém, não sei quem até hoje, liberou gases silenciosos. O peido empesteou o ar rapidamente. Não houve comentários, sequer reações. Todos permaneceram firmes na pose até o momento do flash. O cheiro aqui não se vê. Desconfio que tenha sido este senhor. Mas pode ter sido qualquer um. Até Isabela.
E esses dois aqui?! Um do lado do outro. Mãos nos ombros. Parecem bons amigos. Que nada! Queriam se matar. Esse mais velho, da esquerda, temia perder o cargo de chefe pra esse de verde. Trabalhavam no mesmo setor. E ele tinha razão, porque esse queria mesmo puxar o tapete. Nem sei no que deu essa história. Mas aqui, pelo menos, estão sorrindo lado a lado.
Ouvi a porta abrir e, logo, uma voz soprou atrás de mim.
– Ah, essa foto! Você gosta, né?! Que turma boa!
Minha esposa falou, massageando meus ombros, me deixou com as interrogações e saiu. Observei ainda um pouco mais a velha fotografia. Procurando uma só verdade ali. Virei-a. E atrás era só papel. Com a data: 1998. Achei.
Trilha sonora:
Oi, tudo bem? Muito boa a crônica, parabéns! As boas lembranças nunca morrem. Fotos antigas são excelentes para recordações prazerosas da infância. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/?
São ótimas viagens!
ExcluirEu amo as entrelinhas e há um sorriso não escondido aqui. Eu li certa vez que quando vivemos um momento, não precisamos de uma foto para nos lembrar. Tanto que muitas vezes quando eu vou fazer um passeio, não costumo levar o celular. Para poder absorver tudo ali, desde os cheiros, roupas, cores...
ResponderExcluirAmo muito tudo isso e só pra variar, a trilha sonora está impecável!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Nada como estar presente de verdade em nossos momentos!
ExcluirLindo texto. As fotografias, as ocasiões, como nosso cérebro lembra de tudo... tanto momentos bons como alguns nem tanto. Recordar é incrível, em todas as situações.
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
As fotos ajudam e a gente faz questão de reconstruir esses momentos, né!
ExcluirOlá!
ResponderExcluirQuem nunca pegou fotos antigas para refletir sobre o passado e por que não sobre o presente também? Ótimo texto!
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Cada vez que a gente reflete, parece que a história ganha novos detalhes. Acho
ExcluirAh, gente, que coisa mais linda essa crônica. Quantas imagens lindas! Bem nostálgico o texto, do jeito que gosto. Parabéns para quem escreveu. A imagem que ilustra também é bem linda.
ResponderExcluirBjão,
Diego França
http://Instagram.com/vidaeletras
Muito bom voltar a alguns momentos, né, Diego! Nostalgia, na medida certa, faz bem. Obrigado! Abraços
ExcluirOlá, Nelson.
ResponderExcluirÓtima crônica. Parece que as fotografias perderam o significado depois das redes sociais. Mas quem viveu as épocas mais antigas sabe o quanto é prazeroso pegar e lembrar de tudo aquilo que vivemos no período da foto.
Prefácio
Sim, Sil! A fotografia nessa fase digital está mais para viver o instantâneo. Mas ainda guardo algumas no papel ainda hoje, pra um dia relembrar. Coisas antigas que ficam na gente rs
ExcluirOlá, Nelson
ResponderExcluirEu amo revirar fotografias! Realmente elas escondem muitas coisas que não são perceptíveis na estática de sua forma. Hoje em dia uma foto não tem mais o significado de antes, onde momentos eram guardados pelo seu significado e não para exibicionismo.
Beijos
- Tami
https://www.meuepilogo.com
Verdade, Tamires! Exibicionismo é a palavra de hoje. Mas, como falei no comentário da amiga Sil, eu ainda costumo relevar umas fotos em papel. Porque ainda somos um pouco antigos aqui - ou muito rs
Excluirbeijo
Hahaha! Adorei o lance do pum. Desconstruiu a idealização que a gente constrói em cima das fotografias.
ResponderExcluirEu e minha esposa também temos o costume de olhar fotos antigas. Temos nossos álbuns e gostamos muito de ficar manuseado. É uma maravilha.
Abraço!
http://www.oguardiaodehistorias.com.br/
hahahahah isso aí, Samuel! A imagem nos fala uma coisa, mas por trás tem várias histórias, que cheiram bem ou não.
ExcluirAbraços
Adorei o texto! Confesso que sinto falta de pegar uma foto revelada em mãos e ficar lembrando de quando ela foi tirada..
ResponderExcluirBeijos
Balaio de Babados
Participe do #SorteiodaAmizade no twitter; três livros, um ganhador
Não espere muito! É muito bom!!! rs
ExcluirGrato, Luiza
Oi Marco, tudo bem?
ResponderExcluirGostei muito da crônica. Eu tinha esse hábito, de vira e mexe pegar minhas fotos reveladas e lembrar do passado. Hoje não faço tanto isso, mas é bem nostálgico.
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Vale a pena, numa tarde qualquer. Muito obrigado, Priih
ExcluirOi. Tudo bem?
ResponderExcluirEu gostei da crônica, escrever data em foto é uma das coisas mais legais sobre revelar fotos ou mesmo enviar para alguém.
Beijos, Vanessa
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Tudo bem, Vanessa! Guardar fotos, anotar datas, tudo é um bom exercício de memória. Beijos
ExcluirAdorei a crônica de hoje. Engraçado que esse é um hábito que não temos mais, tirar fotos e ter em papel. É algo que eu pessoalmente sinto falta.
ResponderExcluirParabéns pela crônica.
Beijos
Lu
Blog OnlyLu
Amo esse hábito e, principalmente, as histórias por trás de cada foto.
ResponderExcluirAbraços, Lylu