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  • Minicontos: Aqui a praia é fria – e outros minicontos - Nelson Albuquerque Jr.!!






    Três pequenos contos sobre os (des)encontros de corações. A frieza que molha os pés, cansa as vistas ou desce pela garganta. 






    Aqui a praia é fria

    Aqui a praia é fria, o sol só ilumina, não esquenta, e as nuvens choram sangue. Meus pais trabalham com os peixes, longe, e eu brinco com os cocos despencados enquanto espero a volta das férias de verão. No verão, ela volta. Aqui a praia é fria, mas é onde minha menina passa as férias com seus pais.
    A água é gelada e o nada sopra um silêncio frio. Todo dia é assim. É inverno. Falta muito para o próximo verão.
    Falta muito, só que ela já apareceu. E eu não queria que ela tivesse aparecido, porque na semana passada choveu sangue. Aqui, quando as nuvens choram sangue, é sinal de desgraça.
    Ela apareceu. E vinha correndo cansada, toda torta, de shorts e moletom, tropeçando e respirando com dificuldade o ar cortante.
    Havia chovido sangue.
    Caminhei em sua direção. O som das ondas mastigando as pedras era, agora, misturado ao choro dela. Um choro no vazio. Estávamos – e nos sentíamos – sozinhos no mundo.
    Abracei-a.
    Caímos ajoelhados na areia grossa e ficamos um infinito quietos, agarrados um ao outro. Ela com sua desgraça, e eu com minha chuva de sangue.
    O que fizemos para merecer aquilo? O quê?
    Agora, já estava feito.

    Subscrito Online

    Ficou meia hora com os olhos na tela fria. Queimando a íris num nome com o subscrito Online. Esperando que mudasse pra Digitando. Esperou e só. Nada mudou. Sua notificação preferida não apareceu naquela noite. E do outro lado da tela outros olhos também aguardavam a mudança de subscrito. Só esperaram e nada. Um oi mudaria tudo. Mas nenhuma velocidade de conexão foi suficiente para superar o tamanho dos orgulhos.

    A um bom vinho

    As águas que descem pelo rio regam as videiras desses campos. As uvas viníferas daí colhidas dão forma, cor e vigor a um vinho fino e delicado, ao mesmo tempo robusto e imponente, doador da volúpia e mais prazeres extasiantes. Aroma fresco de pétalas amarelas úmidas ao amanhecer. Sabor nobre e encorpado, enriquecido de mistérios noturnos e castidade em constante ameaça. Como uma menina complexa de olhar juvenil pouco inocente em silhueta insinuante. Gotas rebeldes, adstringentes e adocicadas, aspereza que acaricia e confunde o paladar, gotas que provocam a alma e instigam os desejos. Desvios marotos em labirinto deliciosamente sem saída. Inebriante. Bebida que não se abre, nem se oferece. Mas que daria a vida para ser sorvida lentamente numa apaixonada transfusão mútua de prazeres.


    Trilha sonora:













    1 comentários :

    1. Amo contos e amo mais ainda esse casamento que você faz entre post e música!Acho isso lindo!!!
      Beijo

      Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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